Hotel Marques de Riscal - Elciego, Espanha
Videira de titânio e aço brota na região de La Rioja
Implantado
no coração da região vinícola de La Rioja, o novo complexo da adega
Marqués de Riscal, no povoado de Elciego, em Álava, é o terceiro projeto
de Frank Gehry na Espanha, depois do peixe na Vila Olímpica de
Barcelona e do famoso Museu Guggenheim de Bilbao, situado a apenas 110
quilômetros. Fundada em 1860, a Marqués de Riscal é a mais antiga e
tradicional vinicultora do local, onde sempre se destacou por seu
caráter pioneiro e inovador.
Em 1998, o desejo de apostar na
inovação levou a Marqués de Riscal a idealizar um edifício-sede que
combinasse, em um mesmo espaço, atividades de produção e de lazer. A
idéia evoluiu para a criação de uma Cidade do Vinho , cujo objetivo
seria divulgar a história, a cultura e a filosofia vinícolas. De fato
deu certo: dados recentes mostram que o turismo na região aumentou 68%.
Além de toda a estrutura necessária ao funcionamento de uma grande
adega, o complexo reuniria um spa de vinhoterapia, museu, centro de
pesquisas e de formação enológica, além de um hotel de luxo.
O
projeto de arquitetura, necessariamente de vanguarda , foi solicitado a
Frank Gehry, que havia criado para Bilbao, com grande sucesso, a sede
européia do Museu Guggenheim. O arquiteto impôs como condição para
aceitar o encargo uma visita ao local. Alguns meses depois, passou um
final de semana em Elciego, conhecendo as pessoas, degustando os vinhos,
e já discutindo o programa de necessidades. Entusiasmado com o
trabalho, quis homenagear a região, fazendo o edifício “surgir da terra
como uma videira” . Ao apresentar o projeto à comunidade de Elciego,
confessou: “Quis desenhar algo excitante, festivo, pois vinho é prazer”.
E assegurou: “Não se trata de uma versão reduzida do Guggenheim, mas de
uma evolução de estilo . Talvez esta seja a minha obra mais
representativa neste século”.
No desenvolvimento do projeto,
Gehry manteve sua fidelidade ao discurso de romper com as formas, sem
descuidar das peculiaridades que definem sua obra: funcionalidade,
implantação meticulosa , uso racional da luz natural, vinculação
harmônica entre construção e usuário, experimentação de materiais . A
grande novidade é que suas poderosas estruturas já não ficam encobertas:
adquirem visibilidade, como a evidenciar a arquitetura do caos que é
possível no interior.
A solução estrutural do edifício resulta
de uma combinação de aço, concreto armado e sistemas de concreto
protendido. O primeiro foi usado, principalmente, na estrutura que
suporta as placas de titânio e aço inoxidável, enquanto o concreto está
presente em toda a estrutura principal. As três enormes colunas de
concreto que abrigam escadas e elevadores, únicos pilares do edifício,
não só levam as cargas verticais às fundações, como conferem
estabilidade lateral e resistência de todas as cargas horizontais. No
primeiro andar, um sistema de protensão em forma de tabuleiro foi
introduzido no sentido transversal, como reforço estrutural. Essa viga
recolhe as cargas dos demais pavimentos.
Embora as placas
metálicas da fachada não apresentassem carga muito grande, suas formas
complexas poderiam sofrer o efeito vela , com a concentração do vento em
determinadas zonas. Essas cargas foram transferidas para a estrutura
principal através de perfis de aço, ancorados em alguns pavimentos ou
diretamente no terreno. As vigas metálicas curvas e contínuas podem
redistribuir as cargas através da estrutura, evitando o surgimento de
pontos críticos. Graças à triangulação da geometria, a maioria das
conexões suporta apenas esforços axiais e cortantes .
A
estrutura principal de sustentação das placas é formada por suportes
retos, que nascem tanto do perímetro dos pavimentos quanto do nível de
acesso, sobre os quais descansam vigas curvas (em uma só direção) do
tipo HEA/HEB. Já a estrutura secundária é composta por perfis "T"
galvanizados - unidos por parafusos de alta resistência e retos em sua
grande maioria -, que vão regulando a superfície final. Sobre eles foram
dispostos tubos curvos galvanizados de 30 milímetros de diâmetro,
separados 50 centímetros entre si, que definiram o plano curvo
definitivo, e sobre os quais foram colocadas as platibandas que
permitiram rebitar com certa folga as chapas de aço inoxidável ou de
titânio colorido. Isso evitou estragos nas placas, o que certamente
ocorreria caso a instalação tivesse sido feita diretamente sobre o tubo.
O extenso programa foi organizado, desde o início, em dois
blocos unidos por uma passarela de aço e vidro. O volume principal, com
2.780 metros quadrados de área e 26 metros de altura, está implantado no
eixo do complexo. Seu projeto obedece a uma composição de quatro
prismas inclinados, que flutuam sobre o solo graças a três grandes
colunas de 16,5 metros de altura, responsáveis pela sustentação de toda a
construção. Elas saem de uma profundidade de oito metros no subsolo,
ocupado pela nova garrafaria e pela administração da adega. Devido a sua
estrutura piramidal, as lajes de piso, de formatos muito irregulares e
distintos, vão sendo reduzidas à medida que o edifício se ergue. A
elevação em relação ao solo permite que os quatro pavimentos -
interligados por elevador panorâmico - tenham vista para os vinhedos, o
povoado de Elciego, a igreja e as montanhas da serra de Cantabria.
O
acesso ao edifício principal encontra-se circundado pelos vinhedos do
entorno. O primeiro andar é ocupado por 14 dos 43 apartamentos do hotel,
cujo mobiliário foi igualmente projetado por Gehry. O restaurante ocupa
o segundo pavimento e a área de estar, o terceiro, enquanto o último
piso configura-se como terraço. O anexo, com área de 3.700 metros
quadrados, abriga o spa e os demais apartamentos.
Como no
projeto do Guggenheim, o arquiteto desenvolveu para a fachada do hotel
uma expressiva pele composta de painéis de titânio colorido e de aço
inoxidável espelhado (lâminas de 1 x 2 metros, com um milímetro de
espessura, dobradas em forma de escamas e fixadas aos tubos metálicos
através de rebites de aço inox), com forma de cascatas ou de asas
onduladas. Essa cobertura envolve os cubos geométricos de pedra que
compõem a edificação. A complexa estrutura impede a incidência direta da
luminosidade intensa da região e demarca a paisagem a partir de cada
uma das várias varandas do edifício. O colorido das chapas reflete , sob
a luz solar, as tonalidades presentes nas garrafas do vinho da Marqués
de Riscal: rosa (da bebida), ouro (da malha que cobre o recipiente) e
prata (das cápsulas que envolvem o gargalo).
As fachadas retas
receberam revestimento de arenito, com a mesma tonalidade da arquitetura
vernacular regional . No total, há mais de mil metros quadrados de
terraços, todos de formatos diferentes - retangulares, triangulares,
trapezoidais -, com complexas orientações e inclinações. As janelas
receberam carpintaria mista, com alma de aço galvanizado, marcos de
alumínio e revestimento de madeira.
Fonte: https://arcoweb.com.br