Um lugar fora do comum --a 70km de Santiago-- me levou a dois
mundos distintos. Ok, estava no Chile com sua geografia louca e com
paisagens inusitadas para brasileiros. Mas ali parece que a mão divina
depois de acariciar as terras férteis do vale do rio Maipo, onde se
produzem alguns dos melhores vinhos chilenos, em seguida abandonou à
sorte as montanhas rochosas do Valle Lo Valdés.
No meio dessa diversidade ecológica fica o El Morado Mountain Lodge.
Escolhi esse hotel, não apenas por estar nessa linha divisória, mas pelo
conforto, hospitalidade e ser ponto de partida para conhecer cada uma
dessas regiões.
A visão do glacial Morado, ao amanhecer, diante da janelona do meu
quarto, com uma pincelada de luz laranja no seu topo, me provocou a
ideia de brindar a chegada a esse país visitando as vinhas de Maipo.
Estas se espalham entre pequenos povoados situados a 400 a 800 metros
abaixo (o hotel está a 1.800m). Saindo do hotel virei à esquerda e parti
para uma pequena lição de degustação de vinhos.
Viajar para o Chile e não provar uma taça de vinho é impensável.
Conhecer então as vinícolas dessa região abençoada pela natureza é
melhor ainda. Foi ótima oportunidade para mim entrar nesse universo de
sabores, aromas, cores e nuances.
São muitas as vinícolas do rio Maipo, mas dei preferência pela Concha
y Toro, no povoado de Pirque, uma das mais antigas do Chile. Outra foi
a Santa Rita, cuja sede em arquitetura colonial espanhola é Monumento
Nacional, pois sua antiga proprietária foi heroína da Guerra de
Independência.
Palestras e degustações não faltam nessas vinícolas pra aqueles que
querem aprofundar seus conhecimentos no mundo de Baco, enquanto apreciam
belos goles de vinhos branco, rosé e tinto.
A cada gole, uma pausa. Após cada pausa, muitos comentários. Ao fim dos
comentários, algumas anotações. Considerações feitas, cada degustador
deu seu parecer e nota para cada vinho, levando em conta a acidez,
intensidade, visual, as borbulhas e o olfato.
O resultado despertou ainda mais minha curiosidade sobre os vinhos, e
saí de lá com a ideia fixa não de me tornar um sommelier (são
necessários vários anos e cursos), mas sim um bom apreciador de vinhos.
Não existe meio termo quando o assunto é natureza no Chile. No
segundo dia, virei à direita ao sair do El Morado Lodge e já estava num
mundo de montanhas rochosas com paisagens de mil tons de cinza e de
ocre. 360º de rochedos e penhascos, onde vi claramente boa parte da
formação geológica da Terra. Algumas paredes de pedra guardam as
impressões digitais da água, das ondas, das movimentações das placas
tectônicas, das erupções vulcânicas e até de pegadas de dinossauros no
fundo arenoso de um lago.
Foi nessa natureza que parti para um dos melhores trekkings que já
fiz: chegar na base do vulcão San José, e na volta me esbaldar nas
piscinas naturais de águas quentes de Termas de Colina.
Caminhei sobre pedras e mais pedras soltas numa subida ingreme e
precisei utilizar bastões e assim evitar que uma queda estragasse o
passeio. Naquele silêncio só ouvi o tek-tek-tek dos bastões se fixando
na terra e às vezes o som forte do vento que repercutia harmoniosamente
pela boa acústica dos paredões rochosos. Total isolamento.
A chegada à base do vulcão, depois de três horas de caminhada, foi
baita surpresa. As pedras deram lugar a uma planície verde e aquosa que
formava um campo fértil utilizado pelos pastores locais para seus
animais, gado, ovelhas e cavalos. Acima, o cume nevado do vulcão que
dizem estar adormecido. Não sei não, pois as nuvens em cima do seu cume
bem podiam ser confundidas por fumaça!
Na volta do trekking, peguei a estrada que contornava paredões
rochosos, alguns cobertos de neve, até chegar nas Termas de Colina. E aí
mais uma surpresa. Não foi uma bela surpresa encontrar naquele espaço
rude, áspero e primitivo, uma série de cinco piscinas naturais?
Encravadas num penhasco que descem em terraços pela encosta, cada uma
com temperaturas diferentes.
Em comum a cor da água azul topázio e a sensação de euforia de estar
naquele lugar. E mais, naquela hora em que o sol começava a desaparecer
atrás das montanhas, e deixava sua marca num céu incendiado.
Deslumbrante.
Retornando ao hotel com a noite clara deu ainda para ver lá no alto
as cores alaranjadas de algumas nebulosas. Naquele momento pensei: bons
companheiros, Chile e aventura ficam mais unidos do que nunca no El Morado Mountain Lodge.
Fonte matéria e texto: https://catracalivre.com.br
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